Pesquisa
Jovens estudantes brasileiros não querem ser
professores
Levantamento mostra que 59,77% acham profissão desvalorizada e com más condições
Raquel Sodré
Ser professor do
ensino básico não é uma alternativa para a maior parte dos
estudantes brasileiros. É o que mostra pesquisa recente realizada
pelo núcleo de estagiários e aprendizes Nube. A enquete online
perguntou aos estudantes “você tem vontade de ser professor do
ensino fundamental e médio?” e contou com a participação de
6.910 jovens. Desses, 40,08% responderam “não, é uma profissão
cada vez mais desvalorizada”, e 19,69% marcaram a opção “Já
tive vontade, mas desisti pelas más condições”.
“O que a
pesquisa frisa é a imagem que o jovem tem do sistema de ensino no
Brasil, que ele vê com descrédito. Esse jovem vê os colegas
desacatando os professores e escolhe não ser professor”, analisa o
psicólogo Henrique Ohl, que atua como analista de treinamento no
Nube. As salas de aula refletem bem o resultado da pesquisa. Em uma
das turmas de 1º ano do ensino médio do Instituto Federal de Minas
Gerais (IFMG), em Ouro Preto, somente três dos 25 alunos presentes
no dia da visita da reportagem de O TEMPO afirmaram ter
vontade de ser professor. “Eu não seria porque minha mãe é
professora e eu vejo o esforço que ela faz. Todos os dias, ela
prepara as aulas e, muitas vezes, chega em casa chateada porque não
consegue dar as aulas do jeito que ela havia planejado. Todo mundo
desrespeita, é uma vergonha. E ela não recebe bem”, conta a
estudante Clara Tossige, 16.
“Eu não tenho
paciência para ser professora de adolescentes. Por ser desvalorizada
também não seria professora. Acho que os professores deveriam
receber mais pelo estresse que passam”, dispara a também estudante
Iasmin de Paula, 17.
Desencontro.
Outro fator que contribui para esse desinteresse é a distância que
a escola tomou da realidade de crianças e adolescentes. “Há uma
tendência (por parte dos estudantes) à negação da escola, pois
ela tende a não reconhecer as especificidades do jovem”, comenta o
integrante do Observatório da Juventude da Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG) Juarez Dayrell. Ele afirma que as escolas
ignorarem o novo estilo de vida promovido pelos avanços tecnológicos
também não contribui para uma melhor visão da instituição.
“Hoje, o menino entra no Google e fica sabendo de qualquer assunto.
A escola continua insistindo na transmissão – e não na produção
– de conhecimento e se tornou muito chata”, condena.
A solução para
esse conflito é apresentada pelos próprios estudantes. “Alguns
professores conseguem fazer com que seus alunos tenham vontade de
aprender. Diversificar o modo de ensino e sair um pouco do padrão
algumas vezes já torna a aula interessante”, revela a estudante
Letícia Anjos, 16. E essa quebra de protocolo pode ser feita mesmo
sem o uso de tecnologias. “Muitas vezes, o professor insere as
tecnologias na aula, mas de forma totalmente despreparada”, opina
Lucas de Castro, 15.
Apagão.
Com tamanho desinteresse por uma carreira de licenciatura,
já é possível prever um “apagão” de professores. “Já demos
um primeiro passo nessa direção. Segundo o Ministério de Educação
e Cultura, temos um déficit de 180 mil profissionais para vagas de
matemática, física e química”, afirma Ohl. Mas isso não
significa que o Brasil ficará sem professores. “Essas vagas serão
ocupadas por outros profissionais. Engenheiros para as aulas de
física, por exemplo”.
Se, por um lado,
os jovens não mostram vontade de ser professor, por outro, sabem que
suas opiniões ainda têm muito a mudar. “Vocação não é alguma
coisa que você tem, é algo que você vai adquirindo com a idade”,
reflete o estudante Daniel Alves, 16, com a sabedoria de um
professor.
19,5% dos
estudantes fazem cursos de licenciatura, que lhes habilitam a dar
aulas para o ensino básico.
Fonte:
http://www.otempo.com.br/capa/brasil/jovens-estudantes-brasileiros-n%C3%A3o-querem-ser-professores-1.786203
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